By Wagner

25 de mai. de 2010

Um País que pode desaparecer a qualquer momento

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Male, capital das Maldivas

Qualquer subida do nível do mar e o seu país desaparece. Esse presidente, que realmente falou para o mundo inteiro, falou porque falou para o seu povo.
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"(...)Ainda estamos no tempo em que debatemos o social ou o econômico. Não debatemos o modelo de civilização. Imaginem um candidato a Presidente de qualquer país do mundo propondo reduzir o número de automóveis. Não ganha um voto! Propondo reduzir o consumo das pessoas. Não ganha um voto! Imagine um candidato a Presidente propondo o decrescimento ao invés de crescimento. Não ganha um voto! Imagine um Presidente de um país que descobre uma reserva de petróleo dizer: Em nome da humanidade, vamos optar por não explorar a reserva de petróleo. Não ganha um voto!(...)"

E um Senador que deveria ser Presidente...

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O entre aspas acima é parte de mais um pronunciamento arrebatador do Senador Cristovam Buarque, já faz algum tempo, foi por ocasião da COP 15 no final de 2009, o Senador chamou nossa atenção para o que vai acontecer no mundo por conta da incapacidade dos políticos de captarem toda a dimensão do problema e trazer propostas alternativas, porque há hoje um choque entre a preocupação moral e a preocupação política.
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O que vai acontecer com a humanidade quando a temperatura começar a subir mais por conta das emissões de dióxido de carbono, consequência da produção industrial, que são consequência do consumo ao qual nós estamos acostumados?

"...O presidente de um pequeno país chamado Maldivas é um homem jovem, carismático, muito articulado, que foi capaz de falar quase que chorando: por favor, não deixem o meu país morrer. Então, veja, essa exceção, um presidente que fala para o mundo, confirma a regra do que eu digo. Cada um fala defendendo o seu espaço. Ele foi defendendo o seu espaço, ele foi defendendo o seu país, ele falou para os seus eleitores. Mas, no caso dele, os seus eleitores hoje têm o sentimento da humanidade inteira. Então, ele pôde fazer a sua revolução mental, porque a ameaça no seu país não vai esperar vinte anos. É um país cujo ponto mais alto tem um metro e oitenta de altitude, no sul do continente indiano. Qualquer subida do nível do mar e o seu país desaparece. Esse presidente, que realmente falou para o mundo inteiro, falou porque falou para o seu povo. A exceção da regra confirma a regra que eu estou dizendo. Nós não estamos preparados, nós, os políticos. Nós não estamos preparados para enfrentar os problemas planetários, nós não estamos preparados para enfrentar os problemas de longo prazo, porque a nossa arte da política é comprometida com o nosso espaço ao redor que vota em nós e é comprometida com o tempo curto da próxima eleição..."
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"...Não podemos, porém, esquecer que já passamos por momentos graves na humanidade inteira, nenhum como esse, e que é possível, sim, que antes da tragédia se completar, das Maldivas desaparecerem com país, do litoral do Brasil desaparecer uma parte, da agricultura se desarticular por causa do clima, é possível, quem sabe, que antes disso, no outro encontro que não aquele da semana passada, surjam estadistas capazes de mudar a maneira como a gente faz política, capazes de trazer a dose, o gosto do planetário e, mesmo assim, conseguir votos; trazer o gosto, a responsabilidade do longo prazo e, mesmo assim, não perder votos."

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"Vamos torcer para que o mundo, pela crise que vive, que aflorou nesta semana de uma maneira maior que qualquer outro tempo, seja capaz de produzir líderes que sejam mais do que políticos como nós somos, que sejam estadistas com dimensão global, com dimensão planetária capazes de convencer, democraticamente, os povos do mundo de que está na hora de fazer uma inflexão no modelo de civilização que nós já mostramos que não tem futuro."

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Está na hora de dizer: nos fracassamos. Nós estamos despreparados, mas ainda temos esperança de que surjam alternativas antes da tragédia afundar todo um País, como as Maldivas, e desarticular toda a economia e o funcionamento da sociedade no mundo inteiro. Vamos esperar que o próximo Natal possamos comemorar com mais otimismo, depois da reunião que haverá no México. Se não, vamos esperar que no ano seguinte a gente consiga, no ano seguinte a gente consiga, e que um dia tenhamos uma política capaz de se ajustar à realidade de hoje, que é planetária e de longo prazo.

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Cristovam Buarque, pronunciamento em 15/12/2009


O PRONUNCIAMENTO

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COLEÇÃO LIVROS DE DIREITO

PASTA 1 PROCESSO CIVIL

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